Setembro 2012
Educandário S. José
O primeiro colégio que frequentei foi o Educandário São José, primeiro estabelecimento de ensino misto de Sobral, fundado e dirigido pela ex-freira Honorina Passos, irmã do monsenhor Olavo, vigário geral da Diocese, ambos padrinhos de meu irmão Elcias. Lá ia eu todos os dias, sobraçando pesada bolsa de couro que fora de meu pai. Já era muito exibido e gostava de mostrar aos colegas a facilidade com que lia qualquer livro. Era ainda tempo das primeiras descobertas do pecado. Lembro-me das conversas mantidas, à porta da Igreja de S. Francisco, sobre verdades elementares da vida. Recordo ainda quando começou a derrubada do velho templo, as paredes, solapadas por golpes de picaretas.
Neruda
Podia falar da emoção de “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”, de Pablo Neruda. Mas o poema que mais me comove, em sua obra imortal, talvez não seja, para muitos, o melhor.
Para mim, é o mais pleno de amor, dedicado a “La Mamadre” Oh doce mamãe - nunca pude dizer madrasta, - agora a minha boca treme para te definir, porque mal abri o entendimento, vi a bondade vestida de pobre trapo escuro, a santidade mais útil: a da água e da farinha, e isso foste: a vida te fez pão e ali se consumimos, inverno longo a inverno desolado com as goteiras dentro da casa e a tua humildade onipresente debulhando o áspero cereal da pobreza como se estivesse repartindo um rio de diamantes”.
Borges
Já cinquentão, acometeu-me paixão irresistível por Jorge Luis Borges. Lamentei não o ter conhecido, há mais tempo.
Borges - II
Como os frades, no seminário, me ensinaram a copiar as melhores frases de grandes livros, até para aprender a escrever, - enchi cadernos e mais cadernos, destes de capa dura, de frases, principalmente de seus poemas.
Saramago
Depois foi a vez de me deslumbrar com a obra de José Saramago, em 1985, antes, muito antes do Nobel. Logo que pude ir a Lisboa adquiri toda sua obra a começar do clássico Memorial do Convento que foi o primeiro a me empolgar.
Saramago-II
Depois “O Ano da morte de Ricardo Reis”. E aquela crônica sobre de “Deste mundo e do outro” em que fala do avô se despedindo das árvores do quintal, abraçando os troncos, despedindo-se dos frutos e das sombras amigas.
Mudou
O que realmente mudou minha vida foi “Nova Carta de A-B-C por Landelino Rocha, editado pela Tipographya “Guarany” de Recife, porque me levou à leitura e a leitura foi um alumbramento.
Amizades
Leorne Belém relembra a roda de amigos que fizeram e fazem parte do Grupo dos Sábados, criado pelo saudoso Astrolábio Queiroz. As reuniões aconteciam nos antigos transmissores da Rádio Verdes Mares.
Caça
O Clube do Bode (importante roda boêmia comandada pelo livreiro Sérgio Braga), neste ano de eleições, tem recebido a visita de muitos candidatos, todos ávidos de ganhar a simpatia dos boêmios.
Males
Os velhos só se encontram nas consultas médicas para cuidar de seus males ou nos velórios para enterrar os males alheios. Nesta fase da vida, por menores sejam as fragilidades, quase todas são incuráveis.
Livros
Será lançada hoje a terceira edição da revista Scriptorium, da Associação Brasileira de Bibliófilos, dirigida pelo bibliófilo e escritor José Augusto Bezerra. O editor da revista, Lúcio Alcântara, fará a apresentação da publicação.
Besteira muita
Claro que acho besteira muita dizer que um sujeito, quanto mais velho, melhora da mesma forma que os vinhos, o que contraria a lei natural. Os anos nos levam muita coisa, inclusive a saúde.
Mangueira
O velho é, em matéria de saúde, como estas mangueiras velhas de borracha com que se águam os jardins. Tapa-se um buraco aqui, ele acaba reaparecendo ali e assim por diante.
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(*) Lustosa da Costa (Sobral), jornalista e escritor.